«A minha mãe dizia o seguinte sobre o internato: Demoramos um ano a aprender a cortar. E uma vida inteira a aprender a não o fazer.
De todos os instrumentos num tabuleiro cirúrgico, o bom senso é o mais difícil de dominar.
E, sem ele, não passamos de crianças com bisturis nas mãos.»
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«Antes andava de cabeça erguida.
De cabeça erguida.
Depois, veio o George que me levou uns 2,5 cm.
E depois a Erica que levou mais alguns.
Fiquei mais baixa.
A humilhação faz-nos sentir pequenos, portanto tenho medo, porque mais um desastre pessoal cortava-me as pernas pelos joelhos.»
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«- Qual é o teu problema?
Acabámos de tirar um fígado e um intestino a um míudo morto.
E nem te ralas.
Estás a falar de arco-íris, relações e outras tretas.
Qual é o teu problema?
- Achas que não sei que desligaram as máquinas ao míudo?
Achas que não entendo?
Achas que não sei do caixão pequenino onde vão pô-lo?
Eu sei dos caixões pequeninos.
Estou sempre a vê-los.
Enquanto durmo.
Portanto, se não te importas vou continuar a falar de relações, arco-íris e outras tretas.
E vou fazer planos para amanhã, porque é isso que se faz Karev.
Fazemos planos.
Temos de fazer.
Viramos as costas ao pequeno caixão e olhamos a vida de frente.
Até ao próximo míudo.»
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«- Vamos saber porque coagolou?
- Por vezes os pedaços cá dentro partem-se.
- Eu sou assim.
- Estás a morrer estupidamente?
- A minha vida está em pedaços.
Constantemente.
Estou sempre a parti-los.
Assim que os remendo cai outro.
Não quero chateá-la estando aqui, só quero manter os pedaços todos juntos.»
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«- Anda de cabeça erguida.
- O quê?
- Basta-te ter a coragem de arriscar.
Lutaste, amaste e perdeste.
Anda de cabeça erguida.»
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«Somos humanos.
Cometemos erros.
Calculamos mal.
Dizemos que foi um erro.
Mas quando um cirurgião toma uma decisão errada, não é tão simples.
As pessoas magoam-se.
Sangram.
E lutamos por todos os pontos.
Agonizamos por causa de todas as suturas.
Porque as decisões que nos ocorrem rápida e facilmente sem hesitações...
São as que nos perseguem para sempre.»
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