«Há 730.000 apartamentos na ilha de Manhattan, em 37 Km quadrados de terra.
Arranha-céus, casas de tijolo, prédios pobres, condomínios.
Constroem-se novos e demolem-se os velhos.
Nas ruas, somos todos habitantes do mesmo mundo, gostemos ou não, e não é preciso muito para nos unir.»
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«- Acho que ela teve um desencontro.
- Um quê?
- Um desencontro.
É a coisa mais romântica do mundo. Vejo-os todos os dias na Craiglist.
Se encontrarmos uma pessoa na rua ou no metro, e quase lhe falamos mas não o fazemos e gostávamos de tê-lo feito, e queremos muito encontrá-la, postamos nos "desencontros".»
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«- Está tudo bem?
- Acho que estraguei tudo com o Carlos.
- O que aconteceu?
- Atrapalhei-me toda. Ele disse-me o que sentia, e eu não fui capaz de aceitar.
- Porquê?
- Não sei. Afastei-o.
- Se não sentes o mesmo por ele...
- Sinto..
Sinto, mas...
Por vezes, penso na última relação que tive e que foi...
Não acabou muito bem.
- Sim, mas, pelo que me contaste do Carlos, ele parece digno de confiança.
E é tão giro.
- É não é?
- É. Porque não tentas?
Hoje conheci um tipo que quer ser engenheiro aeronáutico.
Está na cidade há uns 3 meses e sente-se muito só.
Acho que há muitas pessoas assim.
Voltei a visitar aquele site e só hoje já havia mais uns 50 posts.
Acho que nesta cidade há mais pessoas à procura de amor do que à procura de casa.
As pessoas estão desesperadas por estabelecerem ligação com alguém.
E tu já o fizeste.»
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«- Quando fazes a mudança?
- Não faço.
- Não é um encontro.
- Tenho mesmo muita pena. Acredita, adoro o apartamento e todo o meu corpo me pede para ficar com ele.
- Então porque não ficas?
- Porque a minha monogamia em série tem de acabar, Todd.
A culpa não é tua.
Sou eu.
Sou assim. Saio de uma relação e entro logo na seguinte.
- Quem não o faz?
Isto entre nós podia resultar.
- Não, não pode.
Tenho de estar sozinha.
É difícil, mas tem de ser.
Tenho de passar algum tempo sozinha e descobrir o que quero realmente.
Desculpa.»
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Se em Nova Iorque quando algo de mau acontece na rua (uma gárgula de pedra cai de um edifício, por exemplo), é fácil para os locais preocuparem-se com os desconhecidos e se está tudo bem com eles, se é mesmo assim, por aqui não me parece que o mesmo aconteça.
Estamos cada vez mais virados para o nosso umbigo e quando algo de mau acontece a alguém, finge-se que não se viu ou ouviu. Passamos ao/de lado porque não é nada connosco. Ninguém viu. Ninguém sabe.
Mas se em Nova Iorque é diferente, fico contente.
Não conhecia o site Craiglist (craigslist provides local classifieds and forums for jobs, housing, for sale, personals, services, local community, and events). Mas existe mesmo e Portugal não é excepção. Parece que já tudo foi inventado. Mas a ideia agrada-me. Só não sei se em Lisboa terá sucesso ou muitos adeptos, mas confesso que já me aconteceram alguns "desencontros" como os descritos no episódio. E era bom poder lançar um alerta mais tarde. Depois do arrependimento pelo passo não dado.
Na secção dedicada a - personals - podemos encontrar:
Também acredito que há mais pessoas à procura de amor do que de casas para morar. Não só em Nova Iorque mas pelo mundo inteiro.
Quanto ao estar só, faz bem e é preciso. Só não sei quanto tempo. Acho que muitas vezes não sabemos. Quando já esquecemos o passado. Já esquecemos mesmo? Estamos preparados para ir em frente? Para outra ou queremos um período de solidão? De quanto tempo? Quando é que já chega? Quando é que estamos suficientemente fortes outra vez?
Não há respostas. Aliás, há. Tantas quanto as almas existentes. E cada um tem que procurar as suas. Com ou sem certezas. Muitas ou poucas.
Também é verdade que nos podemos acostumar e acomodar ao estado actual. Porque o outro dá trabalho, gasta energia. Às vezes não temos vontade para mudar e deixamos a vida correr.
PS
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