Estou num dos meus lugares preferidos. Aqui tenho dois. Duas janelas e os seus dois lugares. Onde vejo a rua da Betesga. Onde sempre quiseram meter o Rossio.
É um lugar privilegiado. Um observatório humano.
Daqui vejo o movimento. O dos carros que passam e o de muitas vidas que aqui se cruzam. Depressa ou devagar. Em passeio ou a trabalho. Todos vão para algum lado.
E penso para onde vão. O que pensam? O que querem? São felizes?
Era capaz de ficar aqui sentado o dia inteiro. A ver. A ver a vida passar.
Deste lado o Sol não bate mas o vento também não entra. Nesta cadeira que podia ser poltrona estou protegido.
Um galão de máquina claro e morno e uma sandes de fiambre no vosso pão com um pouco de manteiga.
"Forasteiros" a vender o Borda D'Água. Crianças que vêm pedir dinheiro. Turistas encantados com a cidade. Agora passa um grupo enorme de japoneses. E de máquinas fotográficas também!
Fatos e gravatas. Malas a tiracolo.
Mãos e braços dados, alguns. Poucos.
Empregados de lojas com peças de roupa na mão. Sacos e malas de viagem. Saltos altos. Elegantes. Não muitos.
Meias brancas, algumas.
Os quiosques de flores lá ao fundo e agora outra mulher que vem pedir dinheiro.
O sinal muda três vezes de côr. Verde, Amarelo, Vermelho. E é este o seu dia-a-dia de trabalho. Verde, Amarelo, Vermelho.
Cabelos brancos, muitos.
Caras e corpos bonitos, de vez em quando.
Cá dentro o barulho dos talheres que tocam uns nos outros no seu bailado diário. A loiça que se agita. Uma mesa que se muda. Os passos nas escadas. A máquina de café.
Algumas vidas perdidas, outras sem sentido.
Gosto do papel de parede, o tecto, o lustre, os candeeiros nas paredes. As portas de madeira e o desenho dos vidros. O chão em mármore.
A vista cá em baixo é preferível ao piso superior, onde as pequenas grades e as floreiras tapam o que se passa lá fora.
Para muitos já é hora de almoço. O tempo não pára e não espera. É hora de ir embora. O dever chama-me.
Até outro dia.
PS
06/02/09
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